Ciência
Pós-graduação da Epidemio é destaque entre cientistas mais influentes do mundo
Em meio a cortes no financiamento para a ciência, 16 pesquisadores ganham projeção internacional com citações de artigos em trabalhos científicos
Foto: divulgação - DP - Pesquisa histórica da UFPel sobre amamentação virou referência mundial
Por Cíntia Piegas
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A importância da amamentação exclusiva até os seis meses ou primeiro ano de vida, trabalhado pela Corte de 1982, e que virou padrão mundial, evitando mortes na primeira infância, e a curva de crescimento dos bebês que hoje serve de comparação para crianças no mundo ainda estão entre as pesquisas mais citadas em trabalhos científicos ao redor do globo. A relevância de estudos do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia (PPGEpi) e de outras áreas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) coloca profissionais da instituição como destaque na seleta lista dos 2% dos cientistas mais influentes do mundo. A relação é assinada por um grupo da Universidade Stanford a partir da base de dados Scopus.
Mesmo em tempos de cortes de verbas para as universidades públicas, a relação inclui pesquisadores mais citados de 22 áreas na ciência internacional e, do total de 195.656 listados, 844 são brasileiros de diferentes campos de conhecimento avaliados, sendo que 1% é da UFPel. O estudo contempla duas avaliações: a composta pelos pesquisadores mais influentes conforme o impacto de suas pesquisas durante toda a carreira acadêmica e, a segunda, os mais citados em 2021. O destaque aos cientistas está relacionado ao impacto de suas produções acadêmicas, avaliado a partir das citações de seus artigos.
Só da PPGEpi integram Cesar Victora (responsável pela Corte, e o segundo mais citado no ranking de artigos ao longo da carreira e primeiro em 2021), Aluísio Barros, Pedro Hallal, Joseph Murray, Ana Maria Menezes, Fernando Barros, Bernardo Horta e Flávio Fernando Demarco. Se soma a eles, a pesquisadora Iná Santos, que está no segundo ranking, além de outras áreas da instituição: Elessandra Zavareze, Suzete Chiviacowsky, Álvaro Dias, André Fajardo, Rafael Moraes, Éder Lenardão e Tatiana Pereira Cenci como os mais citados no ano passado.
Reconhecimento
O pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPel, e pesquisador do Programa da Epidemiologia e Odontologia, Flávio Fernando Demarco, diz que o PPGEpi, que existe desde 1981, é o mais reconhecido fora das capitais do Brasil, atingido nota sete - excelência na última avaliação. Mas a lista começou a ser divulgada em 2020, pois antes só contabilizava o total de artigos publicados. A partir da avaliação que conta com o impacto que esses artigos e o quanto a literatura mundial se utiliza deles, os fazem relevantes e marca o seleto grupo de 2% dos pesquisadores mais influentes. "A nossa lista vem crescendo. Um exemplo está que a PPG da UFPel se iniciou nas áreas agrárias e na saúde e com o Reuni houve uma expansão, o que aumentou os indicadores de citações em trabalhos científicos. Atualmente foram incluídos Ciência e Tecnologia dos Alimentos, Odontologia, Química, Educação Física", destacou.
A pesquisadora da área da saúde pública da PPGEpi, Ana Maria Menezes, recebe a lista com muito orgulho, pois todo o trabalho feito pelos professores é focado na saúde da população e não na doença. "Uma vez aproveitado pelos governantes, podem virar políticas públicas e estratégias de prevenção, já que o sistema nem sempre oferece exames específicos para se fazer o diagnóstico", exemplificou a pesquisadora especializada em saúde respiratória. Depois de vários artigos sobre os efeitos do fumo, em breve Ana Menezes terá publicado um artigo científico sobre cigarros eletrônicos. "Temos que agradecer muito a população que nos permite pesquisá-las para que os dados científicos retornem às comunidades por meio de políticas públicas. Para nós, o retorno é esse reconhecimento e estar entre os principais pesquisadores mais citados no mundo".
Expectativa
A comemoração dos pesquisadores, no entanto, vem acompanhada de preocupação com o futuro diante de seguidos cortes no orçamento do setor. "O valor de financiamento em ciência em 2022 é igual a 2002, sendo que o número de pesquisadores aumentou 60% nesse mesmo período." Um dado assustador citado por Flávio Demarco é de que, em três anos, o corte para a área da ciência no Brasil chegou a R$ 17,5 bilhões, dinheiro que estava no Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. "Resultado disso é evasão de cérebros. Esse ano temos várias saídas de pesquisadores para o exterior. Um segundo efeito, sem financiamento não teremos pesquisa de qualidade dos estudos feitos aqui e, consequentemente, haverá redução de nomes na lista dos pesquisadores." Um exemplo claro da preocupação dos profissionais da área é que em 2019, o Brasil estava na 13ª colocação em produção científica e atualmente, perdeu três posições. A esperança paira nas promessas de campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, de voltar a investir em educação e pesquisa: "Então há uma boa perspectiva para os próximos anos."
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